Anna Ratto revisita a obra de Arnaldo Antunes em ‘Vison negro’ com mais viço e vigor do que no álbum de 2021
16/04/2025
(Foto: Reprodução) Capa do álbum ‘Vison negro’, de Anna Ratto
Elisa Bezerra
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Vison Negro
Artista: Anna Ratto
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Com Vison negro, álbum disponível desde 11 de abril, Anna Ratto desmonta a tese de que o segundo volume de um disco costuma soar como xerox do trabalho que lhe deu origem.
Quatro anos após o álbum Contato imediato – Anna Ratto visita Arnaldo Antunes (2021), a artista carioca volta a abordar o cancioneiro do compositor paulistano – revelado no grupo Titãs no início dos anos 1980 e em carreira solo desde 1993 – em disco que, como revela a própria artista, é “obra do acaso”. Bela obra do acaso, pois soa mais vigoroso do que o disco que lhe deu origem.
O que de início seria somente um EP sugerido por Alexandre Kassin – com gravações de três músicas que entraram no show originado do songbook de 2021 – ganhou a forma de álbum com 10 faixas quando Arnaldo Antunes forneceu repertório inédito para Anna Ratto. São cinco músicas inéditas e cinco regravações.
Dentre as cinco novidades de Vison negro, há o rock que batiza o álbum produzido pelo mesmo Liminha que pilotou o disco anterior, mas agora com a adesão de Kassin.
Vison negro, o álbum, tem dose mais farta de rock do que Contato imediato porque outras músicas, como Não enfeitar (Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Liminha) e Não temo (primeira parceria de Anna Ratto com Arnaldo Antunes, menos imponente no conjunto da obra), também foram ambientadas em atmosfera roqueira. No caso de Não enfeitar, com um toque country na introdução da faixa.
De modo geral, a sonoridade de Vison negro resulta bem mais sedutora do que a do disco anterior, gerado em contexto pandêmico ainda marcado pelo isolamento social.
O álbum Vison negro ostenta músicos do naipe do guitarrista Davi Moraes e do pianista Marcelo Galter, ambos presentes na guitarrada Bam bam bam – música assinada por Arnaldo com Céu e Hyldon que reforça a já recorrente conexão do ex-titã com o universo musical do norte do Brasil – e em Dança (2015), reggae em clima de dub. Dança é parceria de Arnaldo Antunes com Marisa Monte apresentada pelo cantor há dez anos no álbum Já é (2015).
Com a mesma Marisa Monte e com Pepeu Gomes, o compositor assina Um branco, um xis, um zero (1999), música que até então ninguém tinha tido coragem de regravar posto que lançada por ninguém menos do que Cássia Eller (1962 – 2001). Ratto se desvia da cruel comparação ao abordar a música no tom mais suave de um pop radiofônico.
Na seara das baladas, a cantora dá voz à recente Lágrimas no mar (Pedro Baby, João Moreira, Arnaldo Antunes e Marcia Xavier, 2021) – canção que deu nome ao álbum lançado por Arnaldo com o pianista Vitor Araújo há quatro anos – e à inédita Todo dia e toda hora com você (Arnaldo Antunes com Marcelo Jeneci, Betão Aguiar, Fefê e Junix). Canção melódica gravada por Anna com Fernanda Takai, Todo dia e toda hora com você seria um hit em potencial se o rádio ainda moldasse o gosto musical popular (resta torcer para que entre na trilha sonora de alguma novela...).
Com arranjo que evidencia as guitarras de Liminha e Kassin, a balada Se tudo pode acontecer (Arnaldo Antunes, Alice Ruiz, Paulo Tatit e João Bandeira, 2001) exemplifica a superioridade da sonoridade de Vison negro em relação ao som de Contato imediato, inclusive pela mixagem azeitada do norte-americano Michael H. Brauer, engenheiro de som que tem no currículo trabalhos com nomes do porte de Bob Dylan e Rolling Stones.
A dose adicional de viço e vigor de Vison negro é reiterada no arremate do álbum com a pulsação enérgica que move Sem você (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, 1998), a música que Brown lançou ainda no século passado com o título de Busy man.
Enfim, Anna Ratto virou o jogo no segundo tempo com Vison negro.
Anna Ratto apresenta cinco músicas inéditas e cinco regravações do cancioneiro de Arnaldo Antunes no álbum ‘Vison negro’
Elisa Bezerra / Divulgação